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A oratória a serviço do espiritismo

ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO HUMANA – PRINCIPAIS CAMPOS DA ORATÓRIA:

Informal – Corporativa – Política – Acadêmica – Militar – Sacra (Sagrada)

A Veneranda benfeitora Joanna de Ângelis esclarece-nos, em diversas e iluminadas oportunidades, que o objetivo maior do Espiritismo é iluminar consciências. Nessa atividade redentora, o orador espírita tem a oportunidade feliz de “semear estrelas de esperança nos corações de todos os que sofrem” e procuram a Casa Espírita, em busca de alívio para os seus sofrimentos. As reuniões doutrinárias tornam-se, portanto, naquele momento abençoado por Jesus, em encontros dos mais felizes, em que os Espíritos amigos espargem o amor de misericórdia, extraído amorosamente do Evangelho.

O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, no cap. XX, item 4, oferece-nos a mensagem intitulada Missão dos Espíritas, de onde destacamos: “Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!… sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina.” “Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus…” “Ide, Deus vos guia!” “Ide, o Espírito de Deus vos conduz.” “Ide, pois e levai a palavra divina…” “Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou;”.

Estão bastante claros, no texto original, os objetivos e conteúdos que caracterizam a Oratória Sacra, que difere de todos os outros tipos de oratória.

O orador sacro é um representante de Deus.

HOMILÉTICA“Assim como para o solo, os astros, os signos, os mares, enfim, para cada coisa que compõe o universo conhecido, existe uma ciência que se ocupa em estudá-la, também a pregação cristã – de modo particular aquela proferida no seio da comunidade reunida – tem uma ciência específica que se ocupa dela: a Homilética. O termo vem da palavra grega “he homilia”. O verbo “homilein” significa relacionar-se, conversar. No Novo Testamento, “he homilia” designa o estar junto, o relacionar-se. Daí, nos primeiros séculos do cristianismo, essa palavra passar a ser usada para nomear a pregação.

No grego existem três palavras-chave: “Kerygma” (anúncio), “keryssein” (anunciar) e “keryx” (pregoeiro, arauto, mensageiro). “Kerygma”, portanto, é a proclamação solene, em praça pública, que um arauto faz em nome do rei, para anunciar um fato importante e decisivo para a nação.

No Novo Testamento, a palavra grega “kerygma”, traduzida geralmente por pregação, ocorre oito vezes, enquanto o verbo “kerussein” aparece 61 vezes. Para Cristo, o “kerygma” consiste na proclamação pública e solene da chegada do Reino de Deus. Para os apóstolos, o “kerygma” consiste na proclamação, por ordem do Mestre, da Boa Nova, cujo ponto alto é o significado da vida toda de Jesus Cristo.

Dentro desse conceito, o arauto é um enviado. Ele não fala em nome próprio, mas em nome daquele que o enviou, enquanto o objeto desse anúncio é a Boa Nova, ou seja, a Pessoa do Cristo. (…)” (CARVALHO, Dirce de. HOMILIA: A Questão da Linguagem na Comunicação Oral. São Paulo: Paulinas, 1993).

VOCATIVO E SAUDAÇÃO:

As primeiras palavras do orador deverão ser para atrair a atenção (VOCATIVO) e cumprimentar as pessoas presentes (SAUDAÇÃO). É uma forma respeitosa e educada de se dirigir à plateia e de chamar a sua atenção.

Para se dirigir/referir aos componentes da mesa de honra, em uma reunião ou uma solenidade, o Dirigente/Presidente da reunião será cumprimentado em primeiro lugar, mesmo que outras pessoas tidas como mais importantes estejam presentes.

Exemplos de Vocativo/Saudação, com muita formalidade:

  • Excelentíssimo Senhor/Doutor/Professor José de Alencar, digníssimo presidente desta Assembleia, na pessoa de quem, venho, respeitosamente, saudar todos os demais dignos e venerandos componentes da mesa de honra. Ilustres Convidados. Minhas Senhoras, meus Senhores!Que todos sejam testemunhas de minha gratidão a Deus, pela felicidade que Ele me proporciona, neste momento, de estar aqui, na companhia de corações tão sensíveis, quanto generosos… (Segue-se o Exórdio)

          Nota: a adequação do pronome de tratamento deverá ser observada.

  • Excelentíssimo Senhor/Doutor/Professor José de Alencar, digníssimo presidente desta Assembleia. Excelentíssimo Senhor/Doutor/Professor Ruy Barbosa, Prefeito Municipal/Governador do Estado, nas pessoas de quem, venho, respeitosamente, saudar todos os demais dignos e venerandos componentes da mesa de honra. Ilustres Convidados. Minhas Senhoras, meus Senhores!

Exemplos de Vocativo/Saudação, com leve formalidade

A. – Ambiente não religioso: (Vocativo grifado)

  1. Respeitável públicoSejam bem vindos ao nosso espetáculo! (Apresentador de circo).
  2. Brasileiros e Brasileiras! Praza a Deus abençoar o nosso Brasil. (José Sarney).
  3. Trabalhadores do Brasil! A nossa felicidade depende do esforço de todos nós. (Getúlio Vargas).
  4. Senhoras e Senhores, muito boa noite a todos. (empresarial/corporativo), ou
  5. Senhores, caros colegas, desejo um excelente dia/tarde/noite para todos, ou
  6. Meus caros amigos, sinto-me imensamente feliz em estar com vocês

B. – Ambiente religioso: (ORATÓRIA SACRA)

       1-A SAUDAÇÃO DE JESUS (I): (sem Vocativo)

       “Entrando na casa, saudai-a assim: Que a paz seja nesta casaSe a casa for digna disso, a vossa paz virá sobre ela; se não for, a vossa paz voltará para vós.” (Mateus, 10: 12-13/enviou os doze e ordenou).

       2-A SAUDAÇÃO DE JESUS (II): (sem Vocativo)

       “Falavam ainda estas coisas, quando Jesus se apresentou no meio deles, e dissePaz seja convosco.” (Lucas, 24:36/Emaús).

       3-A SAUDAÇÃO DE JESUS (III): (sem Vocativo)

       “Chegada a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e estando cerradas as portas do lugar onde estavam os discípulos, com medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-se no meio, e lhes disse: Paz seja convosco!”   (João, 20:19/após ressurreição)

       4-Do livro Transição Planetária, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda/Divaldo Franco (I):  (Vocativo grifado)

      “Veneráveis administradores, almas irmãs nossas de todas as dimensõesSaudamos-vos a todos em nome do Senhor do Universo.” (Espírito Ivon Costa, p. 31)

       5-Do livro Transição Planetária, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda/Divaldo Franco (II): (Vocativo grifado)

       “Nobres mentores que nos honrais com as vossas presenças. Queridas irmãs e queridos irmãos em Jesus-CristoLouvemos o Senhor e cantemos-Lhe hosanas!” (Espírito Dr. Artêmio, p. 127)

       6-Do livro Transição Planetária, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda/Divaldo Franco (III): (Vocativo grifado)

       “Irmãos queridosGuarde-nos Jesus na Sua paz e misericórdia.” (Espírito Embaixador de Ismael, guia espiritual do Brasil, p. 218)

       7-Do orador Divaldo Franco (I): (Vocativo grifado)

      “Digníssimas autoridades presentes ou representadas, Senhoras, Senhores, queridas irmãs, queridos irmãos espíritas, jovensNossos votos cordiais de muita Paz!” (Conferência: Mediunidade com Jesus, na XIII Conferência Estadual Espírita, em Curitiba/PR).

       8-Do orador Divaldo Franco (II): (Vocativo grifado)

      “Digníssimas autoridades presentes ou representadas, Senhoras, Senhores, queridas irmãs, queridos irmãos espíritas, jovensPermaneça conosco a suave e doce paz de Jesus!” (Seminário: Transtornos Mediúnicos, na XIII Conferência Estadual Espírita, em Curitiba/PR).

       9-Do orador Divaldo Franco (III): (Vocativo grifado)

      “Meus queridos irmãos! Que nos abençoe Jesus, o Mestre incondicional de nossas vidas.” (Palestra: A Personalidade de Jesus, no Centro Espírita Paulo e Estevão, em Salvador/BA).

       10-Do orador Raul Teixeira (I): (Vocativo grifado)

       “Senhoras, Senhores, Jovens, queridos Irmãos de Ideal espíritaPermaneça conosco a suave e doce Paz de Jesus!” (Palestra na XIII Conferência Estadual Espírita, em Curitiba/PR).

       11-Do orador Raul Teixeira (II): (Vocativo grifado)

       “Queridos irmãos espíritas, Senhoras, Senhores, amigos jovensMeu abraço muito fraterno, com votos de muita paz para todos nós.” (Seminário: A Justiça Divina e a Consciência Humana, na VII Conferência Estadual Espírita, Curitiba/PR).

       12- Do orador Raul Teixeira (III): (Vocativo grifado)

       “Senhoras, Senhores, amigos da juventude, meus queridos irmãos espíritasQue Deus nos guarde e que nos possa manter sob sua paz!” (Palestra: A Busca da Felicidade, em Ponta Grossa/PR, em 12.12.2003).

Nos exemplos transcritos, identificamos a beleza do que podemos chamar de ”sala de visitas” bem ornamentada, ou “um portal florido”, que nos levam a abrir as portas de nossas almas, para receber as sementes de amor, de uma oratória autenticamente sacra (para ambientes religiosos, inclusive maçônicos). Lamentavelmente, por não observarem tais procedimentos e/ou os seus autores, alguns oradores espíritas, por pobreza de linguagem, falta de conhecimento e de estudo em livros específicos de oratória, iniciam as suas falas sem nenhum vocativo, e com apenas um “bom dia/boa tarde/boa noite” (que são saudações corporativas), como se estivessem em autêntico ambiente de negócios, político, acadêmico, etc, que os maçons denominam de ambientes profanos (não sagrados). E o que é muito pior: alguns desejam, consciente ou inconscientemente, transformar as nossas reuniões doutrinárias (ambiente sacro) em plateias, imitando animadores de auditórios televisivos com a conhecida saudação: Boa noitêêêêêê!!!!. E aguardam, emocionados, que os ouvintes respondam no mesmo tom. Quando não se satisfazem, assim, alegam que não ouviram a resposta, repetem a mesma saudação, estimulando-os que até gritem o Boa noite!, de forma coletiva. Só então, iniciam as suas falas. “Vade-retro!”

Há de perguntar-se: Por que certos oradores espíritas, ao ocuparem a tribuna, para seguirem/aplicarem a orientação do nosso emérito Codificador, Allan Kardec, no já anteriormente citado capítulo “Missão dos Espíritas”, de O Evangelho segundo o Espiritismo, ao iniciarem a palestra, com o VOCATIVO e a SAUDAÇÃO, abandonam o que Jesus exemplificou, desprezam ou ignoram os belos modelos da Espiritualidade (como nos já transcritos do livro Transição Planetária), e renunciam aos elegantes e escorreitos procedimentos de Divaldo Franco e Raul Teixeira, também anteriormente mencionados, para adotarem exemplos vulgares do cotidiano informal ou corporativo?

(Referências: 261 livros sobre oratória, dos quais cerca de três dezenas, de conteúdo exclusivo sobre Oratória Sacra, que fazem parte da biblioteca pessoal do autor).

Autor: Prof. Ary Quadros Teixeira

Sobre o autor:

Cofundador, há 51 anos, e atual Presidente do Grupo Espírita Casa de Guará, em Itabuna (BA). Cofundador e primeiro Presidente da Associação Jurídico-Espírita do Sul da Bahia. Mestre Maçom, no Grau 33.  Foi Venerável da Loja Maçônica Areópago Itabunense, e Grande Orador da Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia, em Salvador (BA). Membro da Academia de Letras de Itabuna e Membro da Academia de Letras Jurídicas do Sul da Bahia. Executivo aposentado do Banco do Brasil, em nível de alta gerência. Professor de Português, de Oratória e Marketing Pessoal, e de Oratória Sacra. Lecionou Direito Civil na Universidade Estadual de Santa Cruz, e Oratória Jurídica no Curso de Direito da FTC, em Itabuna. Realizou MBA em Gestão de Comunicação e MBA em Comunicação em Apresentações, pela Fundação Getúlio Vargas. Técnico em Contabilidade. Graduado em Letras. Bacharel em Teologia. Bacharel em Direito, com pós-graduação em Direito Processual Civil. Realizou Curso de Formação em Psicanálise Clínica. Pós-graduando em Comunicação Integrada em Marketing. Inscrito nos Cursos de Psicopatologia Forense: Mentes Criminosas, e de Psicologia Forense: Criminal Profiling.

 (Este é um presente carinhoso de Ary Quadros para você: um capítulo do seu próximo livro sobre Oratória Sacra. Se você gostou, e quer colaborar para melhorar a qualidade das palestras espíritas, divulgue-o.)