A Hierarquia da Caridade

 

             Allan Kardec, o admirável Codificador da Doutrina Espírita, sobre cujos ombros a bandeira do Espiritismo foi desfraldada, iniciando-se uma Nova Era para Humanidade, formulou as 1.019 perguntas de O Livro dos Espíritos, facultando à humanidade todas as respostas que, até então, nenhuma outra ciência ou filosofia foram capazes de apresentá-las com segurança, racionalidade e beleza.

      Afigura-se-nos, de superior importância, a questão formulada sob número 866, no seguinte teor: Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? A resposta é surpreendente: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”

       A caridade, sob tal aspecto, não se restringe à esmola, “abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores.” (Comentário de Allan Kardec.)

      O Espiritismo, contudo, jamais reprovou a esmola. “O que merece reprovação não é a esmola, mas a maneira por que habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao encontro do desgraçado, nem esperar que este lhe estenda a mão.” (resposta da questão 888-a.)

      Quando a esmola que dermos aos necessitados “não for para eles um socorro real, é, ao menos, um testemunho de que se participa de suas penas, um abrandamento da recusa, uma espécie de saudação que se lhes faz.” (Palavras atribuídas a Rousseau, pelo Espírito Lacordaire, in Revista Espírita, 1865, pág. 246).

       “Mas em que medida deveis dar, ou antes, qual é nos vossos bens a parte que vos pertence e a que pertence aos pobres? Vossa parte, senhores, é o necessário, nada mais que o necessário e ainda não é preciso que a exijais. (…) Tudo isto diz respeito ao mundo; e se quereis viver para o mundo, só avançareis com o mundo, não ireis mais depressa que o mundo. (…) Do vosso patrimônio, como do vosso trabalho, não vos é permitido retirar senão uma coisa em vosso proveito: o necessário. O resto cabe aos pobres.” (Lacordaire, in Revista Espírita, 1865, pág. 246).

      Com o verbo fulgurante e inflamado de amor ao próximo, continua o Espírito Lacordaire, na página 247, do periódico supramencionado: “E a família, que será dela? Estamos quites com ela, desde que socorremos o que se chama os pobres? Não, evidentemente, senhores; porque do momento em que reconheceis a necessidade de vos despojar pelos pobres, trata-se de fazer uma escolha e estabelecer uma hierarquia.”

      E o Espírito Lacordaire registra o seu pensamento diamantino, enumerando: 1º. – as esposas, esposos e filhos são os primeiros pobres;

2º. – antes e depois deles (de conformidade com as circunstâncias e necessidades), os autores de nossos dias, os que nos alimentaram, guardaram, protegeram nossos primeiros passos: nosso pai e nossa mãe;

3º. – os nossos irmãos, segundo a carne (reencontros provacionais ou não);

4º. – os amigos do coração (reencontros amáveis e amorosos);

5º. – todos os pobres, a começar pelos mais miseráveis.

      Continua o Espírito Lacordaire: “… estabeleço uma hierarquia, conforme aos instintos do vosso coração. Evitai sempre favorecer demasiado a uns, com exclusão dos outros. É pela partilha equitativa, ainda, que cumprireis a lei de Deus em relação aos vossos irmãos, que é a lei da solidariedade. (…) A caridade é a chave do céu.”

      A Veneranda Benfeitora Joanna de Ângelis, na pág. 138, do livro Jesus e o Evangelho, à Luz da Psicologia Profunda, ressalta: “Somente assim, dando e doando-se, o indivíduo se salva, se liberta das paixões, desescraviza-se da posse infeliz; torna-se uno com o Bem que frui e esparze, volvendo ao reino dos céus sem estar acorrentado à Terra. Esse é o sentido exato da caridade: libertação do ego e plenitude do Self.”

       Louvado seja Nosso Senhor Jesus!

Ary Quadros Teixeira

 

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